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quarta-feira, 17 de junho de 2015

Todo Cristão negro brasileiro deve a vida ao Candomblé

Aquele diálogo que você preferia não ter escutado.
- comprei o terreninho pra nossa igreja, irmão. É naquele lugar que tinha uma casa que Márcio batia Candomblé.
- Glória a Deus, irmão!!! Veja como Ele é maravilhoso: sai aqueles negócio de santo pra entrar Jesus.
Olhei pra trás, vi dois homens negros mutilados pelo branqueamento e enquadrados à lógica da branquitude que pratica a intolerância religiosa, parte da engenharia mais complexa que é o racismo.
Por óbvio, não deve ser imposto o Candomblé como religião a todas as pessoas negras: primeiro porque Candomblé não vive de cooptar adeptos, senão pela vontade do Orixá e pela sua própria forma de mostrar a cada um o seu caminho; segundo que nem todo mundo é mesmo pra ser de Candomblé, só os apontados pela ancestralidade por motivos que também só essa ancestralidade conhece.
Problema é a absoluta rejeição à sua própria história. Não há negro/a nesse país que não deva sua própria vida ao Candomblé (e/ou outros segmentos religiosos de matrizes africanas), se não pela espiritualidade, pela função política essencial na resistência dos africanos escravizados.
Negar isso é, no mínimo, ingratidão. Mas Ogum e todo o panteão os perdoa. Nós, os não-cristãos, somos feitos de amor, respeito e acolhimento.
Perdoa, Olorum! Eles não sabem o que dizem! Ingênuos, que em lição de Nei Lopes significa "aqueles nasceram antes da Lei do Ventre Livre". Hoje, ainda fortemente aprisionados pelo que Munanga descreve como colonização mental, fazem trocadilhos infantis e que servem à sua própria exploração: foram lapidados política e e ideologicamente como eternas crianças escravizadas.

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