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sexta-feira, 26 de julho de 2013

Vestido(a)


No meu cantinho de despir
Saem as roupas

Repousa a fluida e amorfa essência

O amanhecer blinda


Reveste calças políticas
Lingeries sociais
Decotes ideológicos
Refaz vestimentas culturais

Traveste(i) cidadã


quarta-feira, 24 de julho de 2013

Nostalgia de Odu Itá

Que saudade do meu cantinho vestido de Mariwô
Paredes cruzadas de Pelegun
A cama verde
A suite de teto estrelado
O banho da força que vem da terra
Os chamados em palmas-triplamente-cadenciadas
As surpresas no fundo da dilongar
As frutas transbordando no alguidar
As visitas das crianças
A jóia no pescoço
O sino nos pés
As almas indo e vindo
As palhas enroladas pelo corpo
O corpo enrolado em puro branco
Tempo que passou, mas é presente
Passado sempre recente
Quando a contagem do tempo hierarquiza
 Yawô foi ontem, é hoje e será a cada manhã
Mesmo depois dos pés calçados
Dos adereços graduados
Dos assentos elevados
A espiritualidade sempre estará descalça
Tendo sido desde sempre de alto grau
E estando desde sempre de pé
A vida encantada por divindades das estradas
Cruzadas, retas, infantilizadas
Saudade de um início que nunca deixa de ser começo
Mistérios surpreendem tanto quanto protegem
A magia fora dos padrões milagreiros
As descobertas históricas da nossa própria história
As confidências e pedidos secretos aos amigos nem sempre invisíveis
Mas onipresentes, oniscientes e não-cristãos
Os segredos repassados
Juramentos firmados...
Saudade de ser só do meu Orixá.
Não ser do trabalho
Da minha carreira
Das minhas preocupações
Do mundo violento
Das intransigências minhas e alheias...
Graças a Tempo
De tempos em tempos
Sou obrigada a me abrigar.