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sábado, 22 de outubro de 2011

Já que Narciso acha feio o que não é espelho...*

Toda vez que olhamos o outro e não nos vemos, a humanidade dá mais um de seus últimos suspiros. É assim com o racismo, a homofobia e o sexismo. Talvez estejam falidos os discursos igualitários quando se tem a renovação da equidade para sustentar tão reinventadas falas.
Se ver no outro não é procurar imagem e semelhança físicas, psiquícas ou ideológicas e sim enxergar em cada contorno humano o sopro da vida. Se não quer se ver nesse espelho tolido de pedacinhos de você, não tire pedacinhos alheios: eles não te pertecem, nem se encaixarão em nenhuma parte sua. Olhando para aquele reflexo, cada um tem que enxergar a individualidade que a coletividade não só é obrigada a respeitar, como deve preservar como num instinto de sobrevivência. 
Se eu olho pra você e te vejo machucado, alguma coisa de errada há comigo que te machuquei ou não evitei cada um dos machucados.
"Eu sou você, mesmo que você me negue"**, mesmo que você não enxergue. Cada cego disparo um tiro para a própria cabeça! É tudo espelho, mas há vários Narcisos, olhe em cada um deles e veja você!

*Adaptado da música Sampa - Caetano Veloso
**Música Alegria da Cidade - Lazzo Matumbi

Contida

Contive os gestos
as risadas
as palavras

tudo restrito
nada de mim

Estou sempre pra fora
mesmo quando tanto adentro

Se tudo aflora
A cor,
o clamor
os detrimentos

Eu jogo fora
Voa
dá volta
recicla no vento

Se estar dentro é fora,
Em verso
Ou prosa
Me exponho a Tempo