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domingo, 26 de dezembro de 2010

Todo final de ano merece uma reflexão para não deixarmos de ser clichês.

Não sei o que acontece conosco quando chega o final do ano, o peito enche de ar, a cabeça enche de idéias, o coração se enche de esperança. É como se tudo de ruim que está acontecendo no mundo desaparecesse só porque um ano está acabando e outro está chegando. Parece até que todos os males que aconteceram se restringem ao “ano-velho” e no “ano-novo” serão apenas maravilhas.

Apesar dessas pieguices, pra não dizer idioticices, eu gosto da festa, diferentemente do Natal. O “nascimento do Menino Jesus” pouco me importa. Certamente a maioria que me chamaria de herege, mas o que estou dizendo é o que todos fazem inconscientemente.
Todo ano, no dia 25 de dezembro, quem lembra que ali está se comemorando o “ Nascimento do Filho de Deus”? Assim como eu, POUCO SE IMPORTAM!!!
O ápice da noite se concentra na troca de presentes que precede a farta ceia. Então...quem fica pensando nas dores do parto de Maria depois de se lambuzarem no peru (com ou sem o trocadilho mais usado no Natal), quem lembra da parideira virgem?
Aaaaaahhhh....E ai? A herege ainda sou eu? Se eu fosse cristã, poderia até estar pecando, mas não o estaria sozinha. 
Graças a Ogum e todo o panteão africano, não vivo de pecados e suas consequentes redenções.
Vivo de amor, força, fé e (PARA MIM) a mais linda das espiritualidades e todo dia é dia dos meus deuses: no meu orí, no meu ocan e na minha carne, vibrando, gritando e dançando.
No meu calendário Deuses nascem todos os dias em algum runcó e, portanto, todo dia é dia de fé, fartura, festa, amor ao próximo e a nós mesmos.

Um beijo pra você que hoje, dia 26, ainda está de barriga cheia, mas não necessariamente com a espiritualidade inteira.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Da série: não é meu, mas podia ser!

LIBAÇÃO - ELISA LUCINDA

É do nascedouro da vida a grandeza.
É da sua natureza a fartura
a ploriferação
os cromossomiais encontros,
os brotos os processos caules,
os processos sementes
os processos troncos,
os processos flores,
são suas mais finas dores

As conseqüências cachos,
as conseqüências leite,
as conseqüências folhas
as conseqüências frutos,
são suas cores mais belas

É da substância do átomo
ser partível produtivo ativo e gerador
Tudo é no seu âmago e início,
patrício da riqueza, solstício da realeza

É da vocação da vida a beleza
e a nós cabe não diminuí-la, não roê-la
com nossos minúsculos gestos ratos
nossos fatos apinhados de pequenezas,
cabe a nós enchê-la,
cheio que é o seu princípio

Todo vazio é grávido desse benevolente risco
todo presente é guarnecido
do estado potencial de futuro

Peço ao ano-novo
aos deuses do calendário
aos orixás das transformações:
nos livrem do infértil da ninharia
nos protejam da vaidade burra
da vaidade "minha" desumana sozinha
Nos livrem da ânsia voraz
daquilo que ao nos aumentar
nos amesquinha.

A vida não tem ensaio
mas tem novas chances

Viva a burilação eterna, a possibilidade:
o esmeril dos dissabores!
Abaixo o estéril arrependimento
a duração inútil dos rancores

Um brinde ao que está sempre nas nossas mãos:
a vida inédita pela frente
e a virgindade dos dias que virão
!